quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Os sofás

Você já desistiu. Não procura mais palavras, explicações, nem desculpas. Complicadamente, desistiu. Desistiu de nós. Não somos mais amigos. Amigos não desistem. E você desistiu. Eu era teu refúgio, tua cúmplice, confidente, tua paz. Agora, nada mais. Não precisa mais. Devo ser muito boba mesmo. Eu era um ouvido fácil e braços sempre dispostos a abraçar. Não havia mais ninguém, o que me tornava essencial. Já não sou mais. Pra você, não sou mais nada. Nada além de uma preocupação. Como se eu fosse uma bomba relógio que fosse explodir na sua frente destruindo todo o seu novo mundo. Bobagem. Nem isso eu faria. Sou uma bomba sim, mas inofensiva a você. Vou estar longe demais quando explodir. Essa sensibilidade aflorada me incomoda. Só queria fechar os olhos e adormecer. Sinto essa vontade o dia inteiro. Mas quando fecho os olhos, volto no tempo, e em segundos, estamos de volta a sala, brincando no sofá novo, comendo bobagens, jogando video-game, assistindo filmes, dançando, descansando nos braços um do outro. Dormindo e acordando juntos. Sorrindo. Parei um instante. Fui olhar as fotografias. Nossos momentos. Nossos segredos. Não. Não. Nada mais. Tudo já foi substituído. São outros filmes, outros jogos, outras bobagens comestíveis, outro ouvido fácil, outro amor, outra amiga. Quem sabe, se eu me comportar direito, um dia eu aprenda e desistir e substituir também. E talvez, até esqueça do teu sofá e jogue fora o meu. Sim, o meu. O pequeno sofá da casa antiga que eu, burramente trouxe na mudança, e tanto me faz pensar em você. É hora de mudar novamente. Levando apenas o que faz parte de mim.

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